27/10/2011 - 15h16
Isabela Vieira*
Enviada Especial
Caxambu (MG) – Enquanto cerca de 600 manifestantes indígenas, ribeirinhos e ativistas ambientais ocupam o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e fecham a Rodovia Transamazônica, na altura do quilômetro 50, em Altamira (PA), para protestar contra a instalação do empreendimento, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) afirmou hoje (27) que etnias indígenas estão em risco com a instalação da barragem na Bacia do Rio Xingu.
Enviada Especial
Caxambu (MG) – Enquanto cerca de 600 manifestantes indígenas, ribeirinhos e ativistas ambientais ocupam o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e fecham a Rodovia Transamazônica, na altura do quilômetro 50, em Altamira (PA), para protestar contra a instalação do empreendimento, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) afirmou hoje (27) que etnias indígenas estão em risco com a instalação da barragem na Bacia do Rio Xingu.
Durante debate no 35º Encontro Anual da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), a professora da
Universidade Federal do Pará (UFPA) Sônia Magalhães, que desde 2007
estuda comunidades afetadas, alerta que impactos ambientais não constam
dos estudos sobre o empreendimento e denuncia que condicionantes para a
instalação da usina como a desintrusão de invasores das terras indígenas
não estão sendo cumpridas
“Por meio de modelos matemáticos e de engenharia, o consórcio
[responsável pela obra] diz que o rio [Xingu] não corre o risco de
secar. Não é o que os índios pensam. Pela sua experiência, os velhos
estão seguros do contrário e não há modelo matemático que os convença do
contrário”, disse. “Eles contam que na época de seca, com a diminuição
da vazão do Xingu, peixes podiam ser retirados do rio já cozidos.
Imagine como será com a diminuição da vazão”, questionou.
Integrante da Comissão de Assuntos Indígenas da ABA e pesquisadora
do povo Xikrin do Rio Bacajá - afluente do Rio Xingu - há 20 anos,
Cibele Cohn afirma que os índios não conseguem expor sua opinião ou se
defender dos impactos das obras porque não foram informados
adequadamente sobre o projeto. Segundo a professora da Universidade
Federal de São Carlos (Ufscar), há menos de um mês, quando viram pela
primeira vez fotos de outras barragens, houve reações inesperadas.
“Até esse ano, os Xikrin nunca tinham visto a foto de uma barragem”,
afirmou ao relatar uma reunião organizadas pelas lideranças nas
aldeias. “Em uma cena muito marcante, quando um dos velhos viu um
paredão de uma barragem semelhante ao que será construído, ele disse: é
muito pior do que eu estava esperando”, narrou a antropóloga. A Fundação
Nacional do Índio (Funai), por outro lado, informa que promoveu 38
reuniões e quatro audiências públicas nas aldeias.
Acolhendo as denúncias dos índios, a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, braço da Organização dos Estados Americanos (OEA),
também não considerou as consultas da Funai adequadas. Em abril, por
meio de medida cautelar, determinou que o Brasil interrompesse a
instalação da usina até que as consultas fossem refeitas de forma
“livre, informativa, de boa fé” e em língua indígena, “com o objetivo de
chegar a um acordo” com as sete etnias afetadas. As consulta também são
alvo de ações judiciais no Brasil.
Para cobrar a paralisação das obras da usina até o cumprimentos das
condicionantes estabelecidas para a instalação da hidrelétrica, povos
indígenas do Xingu fazem uma grande manifestação em Altamira hoje (27),
de acordo com a liderança do povo Arara, da aldeia Terrã-Wangã, Josinei
Gonçalves, que participou do debate. Ele contou que as comunidades
estão “assombradas” com os impactos e querem negociar as mitigações
diretamente com a Presidência da República.
“São três pontos principais: a diminuição da vazão de rios que não
nos permitirá, principalmente, chegar a Altamira, onde estão os serviços
públicos e onde vendemos farinha, a diminuição dos peixes e o
desmatamento, além dos conflitos por terra”, destacou Josinei que, assim
como o cacique de sua aldeia, foi ameaçado de morte por colonos que
invadiram terras indígenas atraídos pela obra. De acordo com o indígena,
sem “conversas” não há prazo para fim da ocupação.
Em 35 anos de encontros nacionais da Anpocs, esta foi a primeira vez
que a organização convidou um representante da sociedade organizada
para participar de uma discussão.
Extraído do site da Agência Brasil.
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